38 – O Elo que Faltava







1 – Certa vez Emmanuel disse que Cristianizar, na Doutrina Espírita, é raciocinar com a verdade e construir com o bem de todos, para que, em nome de Jesus, não venhamos a fazer sobre a Terra mais um sistema de fanatismo e negação da verdade. Entre as palavras do Cristo, as ações humanas, a educação do povo, o estágio evolutivo dos seres, os aspectos religiosos internos das pessoas, a ciência que descobre e o que realmente deve ser feito e entendido, faltava um elo que unisse todos os campos do saber, todas as áreas do fazer e todas as teses filosóficas da edificação espiritual e progresso constante.

2 – A Verdade Divina é única e imutável perante os séculos. Assim sendo, a verdadeira ciência e a verdadeira religião um dia serão conquistadas e um dia andarão lado a lado, pois ambas provém de uma fonte única chamada Deus. Tudo na vida evolui e com a constante evolução há um melhoramento no nível de compreensão do mecanismo da vida e do Universo. Quando se mergulha uma caneca no oceano, temos uma pequena amostra do que ele seja. Quando mergulhamos um balde, a amostra maior amplia a compreensão do mar. Se mergulhássemos um tanque de grandes proporções, teríamos uma grande ideia do que seria um oceano. Com a compreensão das coisas ocorre o mesmo. Quanto maior for o recipiente intelectual maior será a parcela de amostra que se obterá do todo Universal. Por esta razão é que uma das Leis Universais é o surgimento de revelações em doses homeopáticas, ou seja, para que as mesmas sejam compreendidas na sua essência, tendo como base o constante e ininterrupto processo de evolução da ciência e da espécie humana.

3 – Seres mais evoluídos já conseguem ter um vislumbre do que seja um Deus de pura justiça, amor, bondade e qualidades infinitas; uma ideia bem mais elaborada do que se possuía há dois, três, ou cinco mil anos quando se produziam nas mentes um temível Deus antropomórfico com qualidades nada infinitas. Todo o arranjo do complexo sistema das Leis Divinas é, na sua totalidade, voltado para a única finalidade de fazer o ser humano evoluir e chegar, mais cedo ou mais tarde, à conclusão que só existe uma ciência, uma religião, uma filosofia, um sistema de vida, um aprendizado, uma família, que se chama Humanidade com Princípios e Fraternidade Universal. A ideia resumida das Leis Divinas é que todos, sem exceção alguma, pertencem a uma mesma família, a Humanidade Fraterna, todos são filhos de um mesmo Deus e merecedores do mesmo destino.

4 – Segundo Humberto de Campos, há uma interessante passagem envolvendo os nobres ensinamentos de Jesus: Iniciando-se, entretanto, o período de trabalhos ativos pela difusão da nova doutrina, o Mestre reuniu os doze em casa de Simão Pedro e lhes ministrou as primeiras instruções referentes ao grande apostolado. De conformidade com a narrativa de Mateus, as recomendações iniciais do Messias aclaravam as normas de ação que os discípulos deviam seguir para as realizações que lhes competiam concretizar.

— Amados — entrou Jesus a dizer-lhes, com mansidão extrema —, não tomareis o caminho largo por onde anda toda gente, levada pelos interesses fáceis e inferiores; buscareis a estrada escabrosa e estreita dos sacrifícios pelo bem de todos. Também não penetrareis nos centros de discussões estéreis, à moda dos samaritanos, nos das contendas que nada aproveitam às edificações do verdadeiro reino nos corações com sincero esforço.

Ide antes em busca das ovelhas perdidas da casa de nosso Pai que se encontram em aflição e voluntariamente desterradas de seu divino amor. Reuni convosco todos os que se encontram de coração angustiado e dizei-lhes, de minha parte, que é chegado o reino de Deus. Trabalhai em curar os enfermos, limpar os leprosos, ressuscitar os que estão mortos nas sombras do crime ou das desilusões ingratas do mundo, esclarecei todos os espíritos que se encontram em trevas, dando de graça o que de graça vos é concedido. Não exibais ouro ou prata em vossas vestimentas, porque o reino do céu reserva os mais belos tesouros para os simples.”

5 – Em outro importante momento, Humberto de Campos narra, no livro Boa Nova, psicografado por Chico Xavier: As recomendações de Jesus foram ouvidas ainda por algum tempo e, terminada a sua alocução, no semblante de todos perpassava a nota íntima da alegria e da esperança. Os apóstolos criam contemplar o glorioso porvir do Evangelho do Reino e estremeciam do júbilo de seus corações.
Foi quando Judas Iscariotes, como que despertando, antes de todos os companheiros, daquelas profundas emoções de encantamento, se adiantou para o Messias, declarando em termos respeitosos e resolutos :
– Senhor, os vossos planos são justos e preciosos ; entretanto, é razoável considerarmos que nada poderemos edificar sem a contribuição de algum dinheiro.
Jesus contemplou-o serenamente e redargüiu:
– Será que Deus precisou das riquezas precárias para construir as belezas do mundo? Em mãos que saibam dominá-lo, o dinheiro é um instrumento útil, mas nunca será tudo, porque, acima dos tesouros perecíveis, está o amor com os seus infinitos recursos.
Em meio da surpresa geral, Jesus, depois de uma pausa, continuou :
– No entanto, Judas, embora eu não tenha qualquer moeda do mundo, não posso desprezar o primeiro alvitre dos que contribuirão comigo para a edificação do reino de meu Pai, no espírito das criaturas. Põe em prática a tua lembrança, mas tem cuidado com a tentação das posses materiais. Organiza a tua bolsa de cooperação e guarda-a contigo; nunca, porém, procures o que ultrapassa o necessário.
Ali mesmo, pretextando a necessidade de incentivar os movimentos iniciais da grande causa, o filho de Iscariotes fez a primeira coleta entre os discípulos. Todas as possibilidades eram mínimas, mas alguns pobres denários foram recolhidos com interesse. O Mestre    observava a execução daquela primeira providência com um sorriso cheio de apreensões enquanto Judas guardava cuidadosamente o fruto modesto de sua lembrança material.
Em seguida, apresentando a Jesus a bolsa minúscula, que se perdia nas dobras de sua túnica, exclamou satisfeito:
– Senhor, a bolsa é pequenina, mas constitui o primeiro passo para que se possa realizar alguma coisa...
Jesus fitou-o serenamente e retrucou em tom profético:
– Sim, Judas, a bolsa é pequenina ; contudo, permita Deus que nunca sucumbas ao seu peso!”


6 – Infelizmente o que observamos é o metal acima do espírito, não só para muitas pessoas, mas para muitos segmentos religiosos também. O raciocínio lógico com base no conhecimento científico e espiritual nos revela considerações importantes no momento de saber como agir e optar por uma gama tão vasta de caminhos que a vida nos oferece. O “bem” é tudo aquilo que contribui e favorece positivamente à vida, que promove evolução ética, moral e induz ao melhoramento de caráter. A sensação de paz interior, de equilíbrio, de trabalho honesto realizado com esforço com o objetivo de elevação sem prejudicar ou maltratar qualquer ser, sentimento de auto superação, pensamentos felizes e que não produzem culpa, são as principais características do bem.

7 - O “mal” é tudo aquilo que promove um sentimento de aflição, de algo incompleto, de dever não totalmente cumprido, de que algo está faltando, de inquietude, que pode gerar algum problema futuro, que pode trazer prejuízo para outro ser ou para si mesmo, que não produz paz interior ou que leva a um certo desconforto moral. As pessoas possuem uma grande dificuldade em diferenciar o certo do errado por razões de ordem egocêntrica, materialista, sedentária, ociosa, em proveito próprio, o que já caracteriza o peso da maldade na hora de por em prática os critérios da avaliação da melhor estrada a ser seguida. Algumas pessoas até escolhem bons caminhos, mas durante o percurso cometem faltas graves, vencidos pela vaidade, ao realizarem autopropaganda de seus feitos ou tentarem diminuir o esforço alheio, como técnica para se sobressaírem perante os demais.

8 – Um processo evolutivo voltado para a verdadeira ciência espiritual compõe o trinômio necessário que formará o elo que faltava para a conquista de planos mais elevados: Evolução, Ciência e Amor. O amor sincero, desinteressado, sublime e puro será a estrela guia a indicar o caminho do bem. Seguir o correto caminho implica em cultivar no canteiro do coração a planta do amor mais puro que encontrar. Mas o que seria um amor puro? O amor puro reúne em si todas as virtudes. É um sol radiante que se espalha; é um motivador de novas condutas e novos sentimentos; é doação, acima de tudo; é dotado de desinteresse pessoal, mas possui a certeza da sintonia e é sempre dedicado a alguém muito especial ou a uma nobre causa de teor muito elevado. O amor corrige sem castigar, orienta sem impor, revela sem tiranizar, solicita sem obrigar, convence sem maltratar e reparte sem deixar de somar. 



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